Os auditores fiscais da Receita Federal (RFB) lotados em Belém seguem firmes na luta pela valorização do cargo que ocupam. Em greve desde o dia 6 de agosto, as autoridades fiscais se mantêm mobilizados. Na manhã da última segunda-feira, 25, três atividades foram realizadas: a entrega de uma carta ao senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) para ser lida na tribuna do senado, uma reunião com o delegado da DRF, Armando Farhat, e uma assembleia convocada pela Delegacia Sindical (DS) Pará.
A carta entregue ao senador paraense faz parte de um compromisso firmado na última sexta-feira, 25. Em uma reunião realizada com os auditores fiscais lotados em Belém, o político comprometeu-se em solicitar uma audiência pública no Senado, em Brasília, para debater o quadro atual da carreira e da Receita Federal. Como contrapartida a Ds PA/AP prometeu subsidiar Flexa Ribeiro com informações sobre o Tema. Baseado no trabalho intitulado “construindo a LOF”, elaborado pelo Departamento de Estudos Técnicos do Sindifisco Nacional, a carta trata da valorização e reconhecimento da carreira de auditor fiscal da RFB e da preservação da instituição Receita.
“A expectativa é que os auditores fiscais da RFB de todo o país estejam cada vez mais presentes em Brasília intensificando o trabalho parlamentar. Essa audiência pública será de fundamental importância para consolidarmos nosso espaço de debate no legislativo, o senador compromete-se em ler na tribuna nossa carta”, afirma o vice-presidente da DS PA/AP. Sérgio Pinto.
Como forma de manter-se em estado de alerta uma assembleia também foi realizada. Bastante representativa, a reunião contou com a presença de auditores de diversas unidades de Belém.
Ainda durante a manhã houve uma reunião com o delegado da DRF, Armando Farhat. O objetivo do encontro entre sindicato, auditores e o delegado foi o de solicitar a publicação no Diário Oficial das entregas de cargo de chefia realizadas pelos auditores como ato de manifestação contra as medidas do governo federal em relação a Receita e carreira. De acordo com Armando Farhat, um posicionamento será apresentado após uma reunião com o superintendente da 2° Região, Moacyr Mondardo.
Para debater os novos rumos da greve a diretoria da DS Pará Amapá convocou uma assembleia para próxima quinta-feira, 27, na sede da DRF, às 18h.
Leia a carta entregue ao senador Flexa Ribeiro:
Belém, 24 de agosto de 2015
Ao Exmo. Sr. Senador Flexa Ribeiro
Assunto: Mobilização dos Auditores da Receita Federal do Brasil pela valorização do Cargo e Reduções nos repasses constitucionais e legais da União ao Estado do Pará.
Sr. Senador,
Como é do seu conhecimento a Constituição Federal de 1988, denominada Constituição Cidadã, consagrou no inciso XXII do artigo 37 às Administrações Tributárias o status de atividade essencial ao funcionamento do Estado, nos termos a seguir mencionados:
“XXII – as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio”.
Convém destacar que, no intuito de afirmar a essencialidade do fisco, o constituinte foi além de uma simples menção a esta posição ao determinar a sua precedência sobre os demais setores administrativos e ao incluí-lo entre as restritas ressalvas constitucionais às vedações de vinculações de receita de impostos conforme dispositivos abaixo:
“Art. 37.
(…)
XVIII – a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei”.
“Art.167. São vedados:
(…)
IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;” (grifamos)
Ao insculpir na Carta Magna tais comandos o legislador constituinte homenageia a própria existência do Estado posto que se, acertadamente, por exemplo, reconhece as funções do Ministério Público e da Defensoria Pública como atividades essenciais ao exercício da Justiça, atividade estatal de inequivoca importancia, à Administração Tributária atribui essencialidade ao funcionamento do Estado. Em sintese, sem Fisco sequer haveria Estado.
Honrando esta missão conferida pela sociedade por meio do constituinte de 1988, nós Auditores da Receita Federal do Brasil nos orgulhamos em afirmar que temos contribuido de maneira exemplar para que a Administração Tributária Federal seja o esteio de um país com tantas desigualdades em que boa parte de suas unidades federativas dependem da eficiência de nossa atuação, situação esta evidenciada na expressiva participação dos repasses legais e constitucionais da União em seus orçamentos.
Mesmo se considerarmos as inúmeras crises na economia em diversos períodos a Receita Federal vêm contribuindo no sentido de evitar ou atenuar os seus efeitos com o desempenho satisfatório em sua arrecadação. Somos responsáveis por 98% da arrecadação Federal e, mesmo os 2% restantes são originados de nosso trabalho pois os créditos tributários executados decorrem do lançamento, competência privativa do Auditor-Fiscal.
Inobstante a força constitucional conferida e o seu papel relevante no financiamento das atividades de Estado, conforme citado acima, os Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil não vêm merecendo por parte do Governo Federal, ao longo dos anos, tratamento compatível com os relevantes serviços prestados à sociedade brasileira.
Ao contrário de reconhecimento, o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil tem sido, sistematicamente, alvo de severo processo de desvalorização. Além de terem suas atribuições mitigadas por um Regimento Interno usurpador de suas competências legais e constitucionais padecem, também, os Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil com a omissão do Governo Federal em assumir a sua responsabilidade na reversão desse cenário. A falta de iniciativa em editar Lei Orgânica do Fisco (LOF), que permita a estruturação do cargo e estabeleça garantias e prerrogativas essenciais ao desempenho das atribuições legais dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil evidencia o descaso do Governo com o aperfeiçoamento da máquina tributária comprometendo a autonomia da autoridade tributária federal na sua missão de combate à corrupção e à sonegação em prejuízo de toda a sociedade.
Completando este quadro de descaso para com o Fisco Federal, o Governo vem impondo sucessivos achatamentos nos subsídios dos Auditores-Fiscais ao abster-se, ao menos, de repor as perdas decorrentes da inflação. O prolongamento desta política acabou por colocar a remuneração dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil na 27ª posição em ranking com todos os fiscos estaduais. Resumindo, quase a totalidade dos estados da federação remuneram seus Auditores em valores acima dos pagos pelo Governo Federal.
Por todas as razões expostas os Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil iniciaram, desde abril do corrente, movimento pela valorização do cargo. Tal mobilização ganhou força com o episódio da votação em primeiro turno da PEC 443 que vincula subsídios de ocupantes de carreiras de estado aos subídios dos Ministros do STF, no início do mês de agosto na Câmara. A exclusão dos Auditores da referida PEC com clara manobra do Governo junto à sua base veio como incremento ao já farto cardápio da desvalorização do cargo ao abrir precedente histórico de tratamento não isonômico aos Auditores frente às carreiras beneficiadas com esta emenda constitucional. Em reação a isto o movimento dos Auditores entrou em um outro patamar.
Grande parte dos Auditores da Receita Federal do Brasil entregaram suas funções de chefia em todo o país, indignados com o desrespeito e a falta de reconhecimento, abrindo uma crise sem precedentes no órgão e indicando um horizonte nebuloso com impactos de curto, médio e longo prazos na arrecadação federal que já vem dando sinais de queda desde 2014, como a seguir demonstramos.
Tabela 1
Tributos Arrecadados pela Receita Federal Por Base de Incidência
Em R$ milhões
Período |
Receitas Administradas pela RFB |
Consumo |
Renda |
Patrimônio |
Outros |
Valores
Nominais |
Valores
Reais (IPCA
Abr/2015) |
Valores
Nominais |
Valores
Reais (IPCA
Abr/2015) |
Valores
Nominais |
Valores
Reais (IPCA
Abr/2015) |
Valores
Nominais |
Valores
Reais (IPCA
Abr/2015) |
Valores
Nominais |
Valores
Reais (IPCA
Abr/2015) |
2013 |
1.100.178 |
1.255.361 |
367.176 |
418.746 |
358.542 |
409.512 |
848 |
961 |
41.679 |
47.650 |
2014 |
1.146.808 |
1.231.430 |
365.706 |
392.702 |
373.054 |
401.220 |
927 |
986 |
55.966 |
59.832 |
Var % |
4,24% |
-1,91% |
-0,40% |
-6,22% |
4,05% |
-2,02% |
9,31% |
2,64% |
34,28% |
25,57% |
Mai/2013 – Abr/2014 |
1.127.742 |
1.262.557 |
373.410 |
418.318 |
368.535 |
412.016 |
847 |
956 |
44.060 |
49.556 |
Mai/2014 – Abr/2015 |
1.171.595 |
1.226.446 |
372.792 |
390.513 |
381.676 |
399.016 |
935 |
990 |
59.626 |
62.490 |
Var % |
3,89% |
-2,86% |
-0,17% |
-6,65% |
3,57% |
-3,16% |
10,41% |
3,57% |
35,33% |
26,10% |
Jan a Abril/2014 |
382.639 |
418.831 |
118.655 |
129.871 |
139.810 |
153.081 |
51 |
56 |
13.386 |
14.656 |
Jan a Abril/2015 |
407.426 |
413.847 |
125.741 |
127.682 |
148.431 |
150.878 |
59 |
60 |
17.047 |
17.314 |
Var % |
6,48% |
-1,19% |
5,97% |
-1,69% |
6,17% |
-1,44% |
15,76% |
7,40% |
27,34% |
18,13% |
Fonte: RFB – Análise da Arrecadação das Receitas Federais, diversos meses
Elaboração: Departamento de Estudos Técnicos do Sindifisco Nacional
No ano de 2013 o IPCA acumulado foi de 5,91% e em 2014, de 6,41%. Somente no primeiro semestre de 2015 a inflação oficial superou esses dos índices tendo atingido 6,83%.
Ao mesmo tempo, a atividade econômica tem desacelerado desde 2013. O crescimento real do PIB daquele ano ficou na casa de 2,3%, enquanto que, em 2014, o crescimento atingiu 0,1%. Em 2015, a previsão do Banco Central é de que haja retração de -1,49%.
O aumento acelerado do nível de preços aliado à brusca queda da atividade econômica, com seus consequentes desdobramentos negativos sobre o emprego, a renda e o consumo, repercutem negativamente sobre a arrecadação tributária.
Os dados da tabela 1 refletem essa realidade, mostrando a arrecadação de tributos federais em três períodos distintos: os anos de 2014 e 2013; o período de 12 meses (maio/2014 a abril/2015) , em contraste com o mesmo período antecedente; o primeiro quadrimestre de 2015 comparado com igual período do ano anterior.
Assim, as receitas administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil em 2014 cresceram, em valores nominais, 4,24%, porém, retraíram-se 1,91%, em termos reais. Nos doze meses (maio/2014 a abril/2015) a situação se recrudesceu: crescimento de 3,89% nominal e 2,86% de retração em termos reais. O primeiro quadrimestre de 2014 apresentou crescimento nominal de 6,48%, mas retração real de 1,19%. Deve-se observar, entretanto, que o mês de abril, prazo final para a entrega das declarações do imposto de renda, é influenciado positivamente pela arrecadação deste imposto. Ou seja, os meses do ano subsequentes vêm confirmando a tendência de queda na arrecadação federal.
Os números da Tabela 1 também mostram retração nos tributos incidentes sobre a renda (Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e sobre o consumo (Imposto sobre Importações; Impostos sobre Produtos Industrializados; Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social; PIS/PASEP; CIDE Combustíveis e IOF).
Apenas os tributos incidentes sobre o Patrimônio, composto no âmbito federal unicamente pelo ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, mostrou crescimento positivo, mas sem grande relevância, devido à baixa expressividade deste tributo na arrecadação total (0,09% das receitas administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil).
O resultado negativo no ano de 2014 foi influenciado especialmente pela redução da lucratividade das empresas, desoneração da folha de pagamentos, queda na produção industrial, na venda de bens e serviços e no valor em dólar das exportações, conforme análise da Receita Federal do Brasil3. Os principais tributos que contribuíram para essa queda foram: IRPJ e CSLL (–4,58%); COFINS/PIS-PASEP (–3,47%); Imposto sobre Importações e IPI vinculado (–6,79%) e IOF (–4,79%)4.
Praticamente as mesmas razões são apontadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil para a queda ocorrida no primeiro quadrimestre de 2015: redução na arrecadação do IRPJ e CSLL; desonerações tributárias; queda no desempenho dos principais indicadores macroeconômicos (produção industrial; vendas de bens e serviços; valor em dólar das importações).
Esta situação ganha um componente importante com a mobilização dos Auditores que, como já dito, vêm realizando operação padrão, desde abril, período do estudo acima, e tende a piorar com a decisão de paralisação por tempo indeterminado em agosto, como resposta a insensibilidade do Governo em estabelecer canal de negociação. Isto deverá agravar ainda mais o declínio da arrecadação dos impostos e contribuições de competência da União, com impacto direto na repartição de receitas e repasses ao FPE e ao FPM.
O aprofundamento da queda na arrecadação dos tributos federais é assunto de interesse de todos os entes federativos, uma vez que a Receita Federal do Brasil é responsável por 70% da arrecadação nacional, de cujo repasse, Estados, Municípios e Distrito Federal são, cada vez, mais dependentes para fazer frente aos seus compromissos financeiros e dar conta de suas prestações constitucionais.
O Estado do Pará bem ilustra esta situação. Apesar dos bons desempenhos em sua Arrecadação, sobretudo após organização do Fisco por meio da edição de sua Lei Orgânica da Adminstração Tributária, exemplo para o Governo Federal, diga-se de passagem, o Governo estadual ainda experimenta expressiva participação dos repasses da União sobre o total de suas receitas. Em 2014 as receitas próprias do Estado do Pará somaram 11,7 bilhões de reais e os repasses relativos ao FPE perfizeram um montante em torno de 4,5 bilhões de reais o que representa aproximadamente 48% de suas receitas próprias. (fonte: site: sefa.pa.gov.br).
Em plano nacional, comparando-se o primeiro quadrimestre de 2015 com o período equivalente de 2014, verifica-se uma queda no repasse para o FPE de (1,70%)5. De igual forma, o FPM perdeu (2,93%)6 no mesmo período. Verifica-se, assim, um viés de queda nas transferências de recursos para o FPMe para o FPE. Pesou nesses números, sobretudo, a perda de arrecadação do IRPJ e do IPI.
No caso do IRPJ, a perda de janeiro a abril de 2015 em relação ao mesmo período de 2014 foi de (5,49%). Com respeito ao IPI, a perda de arrecadação chega a (22,51%). Ressalte-se que tais tributos estão entre os mais suscetíveis à ação fiscal direta.
Para evitar que essa situação se prolongue no tempo, com resultados imprevisíveis para as contas públicas de todos os entes federativos, solicitamos sua intercessão junto ao Governo Federal e junto aos parlamentares do Pará, a fim de implementar uma efetiva negociação com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil – SINDIFISCO NACIONAL, com vistas a ter restabelecida a normalidade na Secretaria da Receita Federal do Brasil. Isso, certamente, terá reflexos positivos não somente para a União, mas também para as administrações de todos os Estados e Municípios.
Desde já agradecemos, certos de contar com sua prestimosa intervenção em assunto de tão relevante interesse do Estado do Pará e do Brasil.
SÉRGIO LUÍS BRAGA PINTO
DS Pará/Amapá
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